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O tesouro que vem da floresta

Bioeconomia

Diante de desafios que começam a ser superados, a região amazônica se aproxima de sua vocação natural – a bioeconomia

Data: 13/05/2024
Veículo: Época Negócios
Texto: Marcelo Moura
Foto: Divulgação/ Café Apuí Agroflorestal

Desde 2019, o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) é gerido pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia).

Gestor do PPBio, Paulo Simonetti diz que a intenção é o ferecer, a pequenas startups, um poder de articulação até então exclusivo de grandes empresas.

“A Natura teve força, vocação e dedicação para organizar uma cadeia produtiva, com gestão territorial, cooperativas estruturadas, usinas, certificação e treinamento, para fornecer matéria-prima de boa qualidade”, diz Simonetti. “Mas quantos outros têm a força de fazer o que ela fez? Pouquíssimos. É difícil, para uma startup de cosméticos, estruturar uma comunidade.”

Juliana Teles, cofundadora do Impact Hub Manaus, vai na mesma direção: “Existem muitas pessoas boas e muitos negócios bons. Mas o tempo é escasso e cada um está cuidando do seu. Então a gente se vê nesse papel de ‘ok, como conectar quem já está fazendo com quem está precisando?’”. O Idesam criou o Elos da Amazônia, um portal com chamadas para identificar crises e oportunidades no empreendedorismo da Região Norte.

“Entrevistamos cooperativas, indústrias, governos, todo mundo que atuava dentro dessas cadeias, com uma pergunta: qual é o seu principal gargalo?”, diz Simonetti. “Após mapear a demanda, procuramos candidatos a encontrar soluções. Demos treinamento e investimento, para os negócios de fato acontecerem e destravarem outros.”

Nascida dentro do Idesam, a Amazônia Agroflorestal promoveu uma solução inusitada e de forte caráter simbólico: combater o desmatamento da floresta com o cultivo de café. Apuí (AM) é uma cidade na fronteira com Rondônia, numa região conhecida como arco do desmatamento. “Fomos para lá em 2008 conversar com a população: como a gente pode ajudar vocês a gerar renda e, ao mesmo tempo, preservar e regenerar a floresta?”, diz Sarah Sampaio, diretora-executiva da empresa. O acaso ajudou. “Um casal de cafeicultores que tinha abandonado o cultivo percebeu que a floresta estava voltando a crescer e o cafezal tinha voltado a produzir”, diz Sampaio.

Assim, em 2012 eles implantaram o sistema agroflorestal de cultivo de café robusta, à sombra das árvores. Plantio, beneficiamento e embalagem são feitos lá mesmo, para gerar empregos e diminuir a demanda por transporte. “Todo ano a gente se reúne com os cafeicultores, analisa o preço do café e vê se estão de acordo. A gente adianta metade do pagamento e, na entrega, paga também os prêmios de qualidade para os agricultores que se destacaram”, afirma.

“Para uma startup pequena, pagar adiantado é um desafio grande. Ajuda bastante a gente ter um comprador fixo.” No ano passado, a Amazônia Agroflorestal comemorou 101 toneladas produzidas, 234 hectares de floresta regenerada e quase 8 mil hectares de floresta conservada.
A empresa vende o Café Apuí Agroflorestal em supermercados pelo Brasil, e exporta o insumo para a Europa. A Lush, na Inglaterra, usa para fazer cosméticos. A Euro Caps, da Holanda, tornou-se um comprador fixo e usa o produto para fazer café em cápsula. “Os holandeses apoiaram a gente na certificação e ao comprar por um preço justo. A parceria também é importante para eles. A Amazônia é uma marca importante demais para ser mera produtora de commodities”, afirma Sarah Sampaio.

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